SUBA A SERRA BRINCANDO
· Temos clareza de que a tragédia da Serra – natural-cultural-política-institucional – foi e continua a ser impactante para a vida e as cidades da região serrana.
· Estamos, no entanto, empenhados, em aliviar, de uma certa forma e nos limites de uma ação voluntária, a situação das crianças e adolescentes que estão vivendo em abrigos, mediante a realização de ações de caráter educativo.
· Estamos cientes dos limites de ações voluntárias nestas e em outras circunstâncias, pois sempre há risco de não continuidade e de criação de oportunidades para ações simplesmente de caridade, o que não é nosso caso, em absoluto.
· Nestas circunstâncias, diante da impossibilidade de outro tipo de ação, nossa intenção é correr o risco de levar adiante a nossa Rede, mas com consciência quanto aos seus limites e possibilidades. Daí assentarmos nossa prática num trabalho coletivo para planejarmos e avaliarmos a ação como forma indicada para sanarmos nossas dúvidas e inquietações.
· A parte que nos cabe é referente à prestação de serviços educacionais, incluindo o oferecimento de materiais e recursos que pudermos conseguir, mediante doações, para sustentar nossa ação.
· Cada voluntário e o grupo em seu conjunto há de ter clareza de que há uma concepção de educação sustentando a sua/nossa ação.
· A educação em circunstâncias normais não muda sozinha a sociedade. Muito menos numa situação de calamidade como a que estamos nos propondo enfrentar.
· Dada a natureza do trabalho, brincar com as crianças será uma atividade bastante comum. E o voluntário que a desenvolver junto ao grupo deverá ter clareza de que "Brincadeira é coisa séria". As brincadeiras carregam uma série de conceitos e subjetividades, o que exige que sejam cuidadosamente planejadas.
· Cada voluntário deverá se preocupar em estar preparado (emocionalmente, tecnicamente e criativamente) para o desenvolvimento das brincadeiras. A tarefa nem sempre é fácil. Trocar ideias com o grupo será sempre salutar para buscar subsídios e trocas.
· Nesse sentido, os relatórios serão instrumentos fundamentais não apenas para acompanhamento das ações desenvolvidas como para o aprendizado recíproco que deve se constituir em característica do grupo.
· Para todos os atores que engendram este cenário, uma atenção especial deverá ser dada ao fato de que nem sempre as crianças e jovens (adultos também) estão preparados para uma adesão imediata à atividade que o voluntário propõe. É preciso boa vontade e o desenvolvimento de estratégias criativas (previamente planejadas) e sinceras para que o desenrolar não seja frustrante.
· O fato de sermos atenciosos e humanitariamente comprometidos com o público a que estamos atendendo não significa que apenas carinho resolve a situação (apesar de ser uma premissa a forma afetuosa de tratamento a ser empreendida).
· Cada criança e/ou adolescente atendido por nós não deve ser visto como merecedor de nossa piedade, mas, sim, encarado e respeitado como cidadão que tem direitos.
· Não é por estarem em situação de extrema penúria que podemos oferecer algo menor ao público atendido, num pensamento totalmente equivocado de que, se não têm nada, qualquer coisa é bem-vinda. Em absoluto! Com eles deve ser trocado o melhor de cada um de nós.
· A realidade de cada qual deverá ser inteiramente respeitada, sem que haja imposições de nossa parte. A prática, portanto, há de ser referência para a ação.
· Não se trata de prestar caridade no sentido de apenas oferecer carinho e atenção às vitimas.
· Nosso comportamento deverá ser sempre acolhedor, cuidadoso, porém pouco invasivo, evitando saturar as pessoas com perguntas acerca de seus dramas e tragédias.
· Cada voluntário deverá prestar o melhor atendimento dentro de sua especificidade de ação (competência técnica, portanto, é o que há de melhor a ser ofertado ao nosso público atendido).
· Nenhuma promessa deverá ser feita se não houver certeza plena de cumprimento da mesma.
· Em caso de dúvidas não deveremos agir sem consultar o grupo.
· Conflitos de qualquer natureza devem ser evitados em relação aos responsáveis pelos abrigos.
· Qualquer problema ou dificuldade para realizar o trabalho deve ser imediatamente comunicado à coordenação do grupo.
CUIDADOS ESPECIAIS QUANTO AO REGISTRO DAS ATIVIDADES
· Um cuidado especial deve ser dedicado ao registro (fotos e filmagens) de nossas atividades.
· Necessariamente, precisamos observar a legislação (o ECA, principalmente) no que diz respeito à integridade de crianças e adolescentes que não podem ser alvo de espetacularização, especialmente, nessas circunstâncias da pós-tragédia e do abrigamento. Isso não quer dizer que não se possa fotografar ou filmar. O bom senso deve prevalecer no momento do click ou do "rec".
· Tais registros são importantes de acontecer para, com sua divulgação, mobilizar outros voluntários. No entanto, devem ser feitos de forma discreta, sem que ignoremos o incômodo (verdadeiro e justo) dos sujeitos (abrigados) que se encontram em situação de extrema fragilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário