Semana passada ouvi de um amigo que o Egito agora está mais perto de nós do que a nossa Serra que caiu por terra. Tendo a concordar. Desde que tenhamos clareza de que também o Egito passará. Tudo é fugaz. Nós mesmos não resistimos a tanta crueza com que nos deparamos na TV e, talvez por autodefesa, escapar de uma tragédia para olhar outras novas/velhas notícias seja uma proteção que estamos encontrando para não sucumbirmos à propalada impotência que cada um tem diante do caos. Claro que restaria a opção de levantarmos de frente da TV, mas aí são outros quinhentos...
Na verdade, para sermos justos, precisamos reconhecer que muitos já saíram de sua zona de conforto e colaboraram, confirmando a nossa extrema capacidade de ajudar quando uma nova tragédia atinge nossos pares, mais ou menos distantes.
Devemos considerar nesta hora, no entanto, que o temor que se abate sobre quem está perto da população atingida já não é mais a simples falta de bens materiais, vindos dos lugares mais inusitados e distantes, mas é o tempo que durará esta situação “provisória”. Sabemos todos e não vamos nos iludir: trata-se de um provisório cuja extensão de tempo ganhará ares de permanência, tamanha a dificuldade para que cada qual volte a ter uma vida mais dignamente organizada.
Nesse sentido, o grave problema com que se defrontam os prestadores de socorro é a urgência de se providenciar, ampliar e atribuir um caráter de maior permanência ao atendimento afetivo, social e educativo que vem sendo oferecido às vítimas, e aqui estamos nos referindo prioritariamente às crianças e jovens.
Precisamos de voluntários que brinquem, que contem histórias, que façam com que cada criança ou jovem abrigado deixe de ser apenas o ocupante do colchão número tal. As perdas já acontecidas e sentidas na carne por cada um não podem ser agravadas por este limbo em termos da educação e cuidado que são devidos a cada qual. Está em jogo o comprometimento emocional, mental, físico, integral mesmo, de um contingente significativo de filhos de nosso tempo.
Que venha quem puder! Que, pela ação, cada qual possa ampliar os limites de sua atuação como cidadão. Que se apresente quem estiver disposto a subir a serra brincando. O cobertor da hora é este.
[1] Colaboradora da Campanha Suba a Serra Brincando - Recreação Voluntária na Região Serrana do RJ. Contato: recreacaovoluntaria@gmail.com